Uma investigação recente revelou um dos maiores esquemas de grilagem de terras já registrados no Brasil, envolvendo um médico do interior de São Paulo que, por meio de fraudes, tornou-se “dono” de uma vasta área da Floresta Amazônica.
Ricardo Stoppe Júnior, de Araçatuba, é apontado como o principal responsável por um esquema que envolvia a falsificação de documentos e a corrupção de funcionários públicos para adquirir ilegalmente mais de 500 mil hectares de terras na região Norte do Brasil.
Segundo as autoridades, as áreas envolvidas no esquema pertencem à União, e Stoppe Júnior teria faturado cerca de R$ 800 milhões com atividades ilegais, incluindo projetos de créditos de carbono e extração de madeira.
Esquema de grilagem e fraudes documentais
A investigação, conduzida pela Polícia Federal, revelou que Ricardo Stoppe Júnior utilizou um complexo esquema de fraudes para alterar registros de propriedades rurais, tornando-se “proprietário” de terras que, na realidade, são de posse da União.
Perícias realizadas pela PF confirmaram que o grupo liderado por Stoppe inseriu folhas falsas em livros de registros de imóveis, alguns com quase 100 anos, dando a aparência de legalidade às transações.
O esquema também envolvia o pagamento de propinas para funcionários de cartórios e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), que atestavam a legitimidade dos documentos fraudulentos.
As negociações para obtenção dos registros falsos foram interceptadas pela Polícia Federal, que gravou conversas telefônicas onde valores de subornos eram discutidos. A quadrilha liderada por Stoppe atuava na grilagem de terras desde 2004, segundo as investigações.
Consequências e desdobramentos da investigação
Em junho deste ano, Ricardo Stoppe Júnior foi preso, mas as investigações e operações contra ele e seus associados continuam em andamento.
A Polícia Federal identificou pelo menos 50 integrantes da organização criminosa e já bloqueou todas as matrículas de terras fraudulentas associadas ao grupo, buscando restituir essas áreas à União. Além disso, Stoppe e seus comparsas serão indiciados por crimes como desmatamento, corrupção de servidores públicos, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Parte das terras griladas por Ricardo Stoppe Júnior incluem a área que hoje faz parte da Floresta Nacional do Iquiri, criada em 2008, onde o médico ainda tentou reivindicar uma indenização de R$ 100 milhões, alegando ser o legítimo proprietário.
O processo, no entanto, foi suspenso pela Justiça. A Polícia Federal, juntamente com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), já retomou a posse das áreas e reinstalou placas de proteção ambiental que haviam sido removidas pelos grileiros.
Em resposta às acusações, a defesa de Ricardo Stoppe Júnior afirma que ele é inocente e que perícias técnicas irão comprovar sua legalidade. Enquanto isso, o INCRA e as empresas envolvidas no esquema estão colaborando com as investigações e revisando as condutas de seus funcionários.
Este caso expõe a complexidade e o alcance dos crimes ambientais no Brasil, destacando a necessidade de maior transparência e rigor nos processos de regularização fundiária, especialmente em áreas tão sensíveis quanto a Floresta Amazônica.