Magnata sem herdeiros deixou mais de R$ 1 bilhão para o Bangu

Na sexta-feira, 21 de dezembro de 1984, Luiz Oswaldo Teixeira da Silva não saiu de casa. A pneumonia, que já havia interrompido suas aulas no Instituto Militar de Engenharia (IME), o debilitou a ponto de não conseguir terminar sua caneca de leite matinal.

Uma forte crise de tosse o acometeu, mas ele não buscou ajuda médica. Sentado no sofá de seu apartamento em Botafogo, no Rio de Janeiro, o professor de matemática faleceu aos 65 anos devido a uma infecção sanguínea decorrente da doença respiratória.

Teixeira deixou uma marca indelével em todos que o conheceram. “Chamávamos de ‘Numerowski’, por ele ser um estudioso da Teoria dos Números e também fluente em russo. Entre algumas de suas outras excentricidades, era monarquista. Ele foi muito especial para mim sob todos os sentidos”, recorda Carlos Eddy Esaguy Nehab, que foi seu aluno no IME e na Universidade Federal Fluminense (UFF) entre 1965 e 1966.

Herança surpreendente

Uma notícia surpreendente no Jornal do Brasil em 20 de janeiro mudou tudo: o clube receberia 500 bilhões de cruzeiros como parte da herança de um torcedor misterioso que havia falecido um mês antes. Em poder de compra atual, esse valor, na época, correspondia a um pouco mais de R$ 1 bilhão.

Para se ter uma ideia do valor, Zico foi vendido à Udinese por 2,3 bilhões de cruzeiros em 1983, uma fração do montante que o Bangu esperava receber. Com tanto dinheiro, o clube planejava contratar Zico, Falcão e Rummenigge, além de modernizar o Estádio Proletário de Moça Bonita.

Ceticismo no Clube

Apesar dos grandes planos, a expectativa era recebida com ceticismo. Sérgio Américo, repórter da Rádio Globo na época, relata: “Os jogadores davam um sorriso amarelo, mas não pareciam acreditar numa possível herança. O próprio Moisés dizia que era coisa de marciano.”

Testamento e disputa judicial

O testamento de Teixeira era confuso. Seis pessoas, incluindo um ex-secretário e uma empregada doméstica, foram beneficiadas. Metade do patrimônio, composto por ações e imóveis, foi destinado ao asilo Casa de São Luís para a Velhice e ao Bangu Atlético Clube. A divisão do dinheiro, entretanto, permaneceu nebulosa, resultando em uma disputa legal.

A briga entre Humberto Gaze, advogado de Castor de Andrade e do Bangu, e Luiz Fernando Arruda Corrêa, defensor de Teixeira, tomou grande parte da atenção dos jornais. Gaze acreditava que o clube tinha direito a 500 bilhões de cruzeiros, enquanto Arruda estimava um valor muito menor, em torno de 1,5 bilhão de cruzeiros.

Ano de sonhos para o Bangu

Enquanto a disputa legal prosseguia, o Bangu vivia um ano de ouro em 1985. Com uma campanha excelente no Campeonato Brasileiro e embalado pelo sucesso da Mocidade Independente de Padre Miguel no carnaval, o clube e sua torcida tinham razões para sonhar alto.

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